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Já era noite
silenciosa quando os cavalos de Simion e Hiraeth anunciaram sua chegada,
partindo um galho seco, provocando um estalar agudo. Avistaram a silhueta dos dois
anfitriões que os esperavam — ambos se levantaram ao mesmo tempo na chegada dos
visitantes. Ao lado deles havia uma gruta aquinhoada a um paredão de rocha
escarpada, a montanha alta.
— Illith e
Urungoy — pronunciou Hiraeth quando aproximou o cavalo dos dois. Ambos fizeram
uma mesura rígida e depois repetiram o movimento à Simion. O elfo os observou
através da penumbra e forçou-se a não retorcer o rosto em desprezo. Os dois não
haviam apenas atraído o asco de Simion como também seu ódio. Se havia seres
mais desprezíveis que àqueles dois, o elfo ainda não conhecera em vida.
O bruxo a que
chamavam de Illith, estava sob uma capa de um veludo azul desbotado e empapado
de sangue seco, indicando o carniceiro, que Simion sabia, que ele era. O capuz
maltrapilho sobre a cabeça ajudava a esconder os cabelos ralos e esburacados,
que compunham a figura simiesca que era seu rosto. Um dos olhos possuía uma
cicatriz grotesca que há muito havia lhe tirado a visão e em troca deixado o
olho leitoso. Simion imaginava quão desgraçado havia sido a falha daquele
ataque — não concedia perdão à quem não havia arrancado a vida do maldito. Já
Urungoy era mais alto e encorpado, escondendo o peito largo e deformado por
debaixo da túnica negra. Assim como o outro, abrigava o rosto por de baixo de
uma toca, mas o queixo protuberante elevava-se para frente revelando os dentes
tortos, paralisados no sorriso sínico e maldoso da expressão ordinária. As
manzorras cheia de calos e pústulas sugeriam à Simion que o homem fosse capaz
de torcer o pescoço de um cavalo apenas com força bruta. Não importava.
Aquilo logo
teria um fim.
Simion apeou
do cavalo e aproximou-se de Hiraeth ajudando-a desmontar. Illith aproximou-se
dos dois com as mãos juntas.
— O local
está todo pronto, armamos o terreno conforme a posição do luar — veio sua voz
arranhada.
— Ótimo. —
disse Hiraeth. — Qual será o serviço prestado no ritual de vocês?
O elfo viu a
cicatriz do homem se retrair junto ao rosto de alegria antecipada enquanto
movia suas mãos freneticamente, limpando algo invisível como um mosca.
— A juventude
de uma moça — respondeu ansioso.
— O sangue de
um abençoado. — disse Urungoy, logo atrás.
Sem querer saber
o que ganhariam em troca, Simion achou ambas respostas suficientes para ganhar
sua aversão. Aparentemente Hiraeth também não quis saber.
— Sem mais
atrasos, vamos logo. — ela ordenou.
Os quatro
entraram pela caverna lodosa, arrastando os cavalos sob o protesto dos mesmos —
os animais sentiam o ar hostil, viam que àquele lugar tinha algo de errado. Sob os relinchos langorosos,
foram levados até uma baia improvisada que havia no caminho. Uma vez amarrados,
Simion, Hiraeth, Illith e Urungoy se colocaram a caminhar subindo uma rampa
natural da gruta, num aclive escorregadio, até se depararem com uma porta de
madeira e bronze, ladeada por dois pedestais de archote com figuras demoníacas
esculpidas na base.
Hiraeth tomou
a frente, ergue as mãos na direção da porta e entoou palavras ininteligíveis.
Ouviu-se um estampido sinistro do outro lado da parede e então a porta
destrancou.
— É hora. —
proclamou Hiraeth. E entraram.
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