Existem muitas armas que podem matar o ser humano.
Existem muitas formas de ferir um atleta. Mas nada – repito: nada – mata um
artista, um escritor, como a preguiça e a ansiedade demasiada.
Primeiro,
a preguiça me dominou. Depois, o tempo me consumiu. Daí eu já não conseguia
mais escrever coisa alguma.
Não
me impediu de ter ideias boas, mas impeliu-me de colocá-las em prática, de
transformá-las em algo.
E
isso era o mais importante.
Escrever
é ser solícito. Alguma coisa que existe dentro de você, simplesmente pede e
você faz.
Às
vezes não lhe é preciso nem de ideias, planejamento ou outra coisa qualquer, só
coragem. O começo de uma pequena fagulha de inspiração, sentando na cadeira com
altivez para encarar os pecados que estarão por vir à primeira página.
Começando
desse ponto de partida, você consegue seguir em frente, preenchendo o mundo
vácuo, sem espaço e altura. Sem limites.
Sobre
todas as outras coisas, o ato de escrever é sobre ser corajoso. Muito mais do
que na vida real. Nem sempre precisamos ter uma ideia fenomenal, um lampejo
divino – as mãos tremem de repente, seu corpo estremece e o coração tropeça por
alguns instantes – essas coisas.
Não.
Você
não precisa ser o dono de uma obra de arte. Precisa ter coragem. Muito dela.
E quando
se sentir mostrando-se de corpo e alma ao mundo, despindo-se sem pudor das
regras que o regem, você vai estar se apresentando ao universo da mesma forma
que veio a ele: sem ideias engrenadas e raciocínios engatilhados. Você cai ao
chão exausto, corpo livre e solto, pálido de todas as coisas que despejou para
fora. Você se encontra deitado e estático como uma folha branca de papel.
Após
o momento de coragem que se apresentou altivamente ao mundo, o escritor se acovarda.
Aguardamos
durante semanas. Meses. Lemos, cortamos, remexemos – editamos o texto ao nosso
gosto. Depois passamos o texto para conhecidos lerem. De preferência àqueles
que compartilham do mesmo sentimento, que tivemos no momento de escrever. Então
recebemos os elogios e as críticas.
Ah
sim, claro, as críticas. Muito, muito importantes.
Seja
parabenizado; ouça todos lhe dizerem sobre o seu argumento e expressarem suas
opiniões. Alegre-se e se inspire. Tome as críticas como partida para melhorar.
No dia seguinte, não pense. Vá, e escreva. Sem decorrência.
Não
serão eles a trazer experiência. Irão te fortalecer e impulsioná-lo ao próximo
passo: melhorar. Mas não transformarão você em algo melhor. As críticas fazem
isso.
Então
escreva.
Coragem.
Reedite o texto, releia, corte, preencha. Coragem.
Mostre
para outras pessoas desta vez. Repita o processo, cada vez mais e mais intenso.
Mostre
a todos. Não só há um grupo de pessoas.
Á
todos.
Pois
o ato de escrever nem sempre é sólido, nem sempre partirá de uma ideia e
história inteira a se contar.
Às
vezes, começamos apenas do pressuposto de se ter uma pequena premissa e a
coragem o suficiente para iniciá-la. Dar-lhe vida.
Christian Vinharski
Muito bom.
ResponderExcluirmais um conto bem bolado,uma certa ajuda para alguns escritores