Toda vez que penso no grandioso e poderoso Deus e sobre sua
existência, a vida após a morte, não há
certeza, claro, mas sim a dúvida. A dúvida que penetra no mais íntimo de nós. Quando acontece, lembro da menor das criaturas
do mundo, as formigas.
Quem nunca assassinou centenas de dezenas de formiguinhas na
vida? Aposto que você já se deparou com filas magistrais desses minúsculos
insetos, em um movimento expansivo e silencioso sobre a mesa da sua casa.
Quando então você simplesmente agarrou um pedaço de pano
úmido e deu fim a centenas de vida logo ali.
Uma vez, quando me deparei nessa mesma situação, dando fim a
pequenas vidas em uma enorme quantidade, encontrei-me pensando: e se esses insetos tiverem uma vida que não
conhecemos? Uma vida de verdade, organizada, comunicativa e de certo ponto,
inteligente, assim como nós.
Peguei-me imaginando noticiários em TVzinhas minúsculas, dizendo sobre a catástrofe do dia a dia para
aquelas formigas: Uma enchente no formigueiro, chuva nas estradas do comércio,
gigantes destruindo seus caminhos de ponto seguro, um milagre vindo dos céus,
chuvas de doces caindo em pontos distantes. Qualquer dia a dia normal e padrão
para elas, que no entanto, haviam acabado em tragédia, com a morte de centenas
de compatriotas daquela raça, naquele dia.
Uma imaginação fértil e risível, eu sei. Mas e se for QUASE
isso? E se, que embora em escala menor do que a nossa, as formigas e – e não só elas como outros insetos –
tivessem uma VIDA consciente assim como nós?
O que aconteceria depois que uma formiga morresse? Para onde
ela iria?O que acontece com sua consciência, com sua existência. Sua essência?
O que acontece, quando tantas
morrem?
E morrem.
Todos os dias, milhares e milhares desaparecem num piscar de
olhos. É tão, mas tão fácil para nós, tirar a vida desses pequenos insetos...
Podemos fazer isso de trilhões de formas. E continua sendo fácil. Fácil demais, pra uma criatura que deveria ter
sua função especial na natureza. No universo.
Quando você assassina uma multidão de 100 formigas que
andavam sobre sua mesa, o que acontece com elas depois disso?
Será que formigas tem seu espaço no céu, ou em outro plano
espiritual? Um lugarzinho guardado só para os animais, ou só para as formigas,
quem sabe?
Será que elas reencarnam? Vivem em um ciclo sem fim de morte
e depois de renascimento em outro corpo. Corpo de formiga ou corpo de outro
animal?
Não sei.
E sinceramente, entro em um delírio temeroso, um medo muito
grande por não saber. Medo, na verdade, por ter quase a resposta na ponta da
língua...
Ao mesmo tempo, pensar que suas vidinhas acabariam para
SEMPRE ali, de forma injusta, é uma possibilidade que minha pobre mente humana
primitiva não consegue aceitar. Todos nós – ou melhor, quase todos – não
PODEMOS acreditar que nossas vidas só existem NESTE momento, e depois, puff...
acabou.
É cruel e impensável. Insensível demais. Terrível demais.
O fato é que não sabemos o que acontece com elas. Nunca
saberemos. Não enquanto ainda estivermos por aqui. Ou talvez nem quando
estivermos do outro lado. Isso se existir um outro lado.
Não sabemos o que acontece a nós mesmo nem sequer NESSA vida,
imagina numa próxima. E continuaremos a ficar sem saber.
Custo a pensar, a querer pensar, que a reencarnação não
existe. Não quero acreditar.
Pois isso destrói com o meu pensamento humano e egoísta de
que minha presença neste mundo, nessa época atual, vale alguma coisa. Qual
seria o verdadeiro SENTIDO da vida, se eu já tivesse nascido muitas outras
vezes? Qual seria o sentido de sequer UMA existência minha, se eu irei nascer em
OUTRAS vezes daqui uns anos? Não, não consigo e não posso aceitar.
Não sei. Não sabemos.
Por outro lado, essa pequena reflexão sobre EXISTENCIA, me
faz perceber acima de tudo o PODER. E que por mais cruel que seja, me faz ter a
certeza sobre a existência de Deus.
Se nós, humanos, falhos, triviais, e desumanos que somos –
sim, entenda a ironia – temos o PODER de destruir tantas vidas, não só as
nossas próprias como a de outros seres, como a de centenas, a capacidade de exterminar
centenas de milhares de formiguinhas e outros insetos com essa facilidade
inadmissível... então, em algum lugar no universo, se não em todo nele, existe,
ou existem, algo que seja capaz do mesmo conosco.
A capacidade de destruir galáxias inteiras, a de exterminar
estrelas. Milhões delas, centenas de milhares, a milhares de dezenas delas.
Assim como também, o poder, mais fácil e indescritível
ainda, de criar.
Não sabemos. Não podemos entender, comprender ou afirmar. Não
enquanto estivermos aqui. Não enquanto não o vermos.
Continuemos, então, a sermos apenas uma porção de formiguinhas.
Christian Vinharski
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