sábado, 1 de maio de 2010

Conto - O Cavaleiro, a Princesa e a Profecia

A face dourada do sol começava a refletir nas nuvens, tornando o céu antes azul. agora laranja, vermelho e um tanto cinza. A tarde que começava a cair dava lugar a um véu negro, próspero à noite, que por sua vez parecia esburacada de estrelas e luzes reluzentes ao céu que, ainda claro, já mostrava ser uma noite daquelas estreladas, onde o mundo contemplava silencioso uma noite que estaria marcada.

Naquela terra distante da cidade-capital de Lowentür, o verde era sempre mais verde, o azul era sempre mais azul, e quando o sol decidia por si só tingir as nuvens de vermelho, então, o céu ali era sempre mais vermelho – enfim, um belo momento oportuno para uma calvalgada em família: o cavaleiro, a esposa e a pequena filha de apenas oito anos. A família passou em seu calmo e responsável passeio por desde os grandes campos de plantações e lavouras, até aos cumes e trilhas de subida aos terrenos mais altos da região. Era um território de latifundio, onde o dono de todas aquelas terras – embora não se auto-proclamasse assim, e nem gostasse de admitir dessa forma – era o honrado cavaleiro pai daquela família, e escudeiro fiel da távula.

-- Papai, – a voz de sua filha era doce e facilmente reconhecível quando ecoou pelos longos campos do terreno – vamos, vamos. – assumia com alegria a postura de um cavaleiro numa cavalgada do seu pequeno pônei, e seguia em frente emitando com o brilho de criança, as honrarias de um Sir.

Risos.

-- Karelle. – com um sorriso de pai – Milady Karelle, na entrada dos portões de Lowentür! – proclamava na brincadeira, assumindo a posição de escudeiro da mais nova milady.

Todos riram.

Sir Gabriel Wallace, era um cavaleiro por volta de seus 32 invernos e pouco. Tinha uma face fácil de se lembrar, esculpida por sua longa determinação e cicatrizes de persistência em treinos e combates. Muitos inimigos provavelmente devem ter reconhecido a face do cavaleiro que era chamado de o mais fiel ao rei, assim como muitos conhecidos, colegas e amigos ainda reconheciam.

Sir Gabriel era um homem de atitudes e pulso firme, sabia tomar as rédeas de uma situação na hora que a visse, e muitos até diziam que chegava a ser essa, uma atitude muito preciptada de sua parte – tal fato se revelava durante seus anos de guerreiro, quando em alguns combates a sorte e somente ela, havia lhe ajudado em ações preciptadas. Por outro lado, era um homem com todas as palavras honroso. Tinha um coração puro e era fiel mais do que tudo à sua família e ao seu rei – que também, era seu melhor amigo.

Apesar de ter recebido incontáveis títulos, – quase todos recusados – e terras, cujo muito poucas tinha aceito, ainda sim tratava todos com afeto e igualdade. E assim seguiu sua vida. Sua mulher, Roslin, alta e bela de cabelos em chamas que brilhavam mais do que topásio no sol, acompanhava a firmeza e determinação do marido no olhar, e a delicadeza e amor em todo o resto. Quanto sua filha, Karelle, puxava a beleza da mãe desde cedo, e toda a personalidade e determinação do pai. Tinha um espírito forte, e se fosse homem, já era de certo que se tornasse um cavaleiro quando alcançasse a maturidade.

-- Papai, -- novamente, fazia sua voz de criança ecoar no ambiente – conte-me uma história. –pedia aos sorrisos.

-- História... – começava a pensar.

-- Karelle – a mãe sorriu.

-- Por favor. – olhos de pedinte.

Os três sorriram em vislumbre. Era um belo entardecer para se contar uma história.

-- Qual você quer ouvir, minha filha?

A menina não pareceu ter dificuldades para responder de pronto:

-- A origem da espada. A profecia!

Era uma boa história, porém já muito ouvida por todo aquele povo. Mesmo assim, o pai não teve dificuldades de querer contá-la. Também era a sua preferida.

-- Há muito tempo, antes mesmo de você nascer... – a garota se sentava ao chão gramado, pronta para ouvir – Todo esse lugar era composto de uma floresta cheia de vida, e também de ruínas de algum reino primórdio de uma nação bárbara desconhecida. Tudo o que se sabe, é que existia um povo místico por essas terras desde então. Eram conservadores da natureza e de tudo o que era bom, mas três povos antigos que dividiam nosso reino, ameaçavam todo o bem, e afundavam a nação em guerra.

A lendária história, apesar de mística em certos pontos, era real – fora assim, o nascimento do reinado de Lowentür, meio à Avalon, a terra mãe. Nos primórdios, três reinos poderosos se confrontavam em uma guerra que parecia não ter fim. Irmão matava irmão. Cavaleiros tornavam-se algozes, e o mundo vivia em uma época de trevas.

A única esperança de paz e salvação para uma nova era de luz, era a lenda da espada Kallidar – uma arma que estava fincada numa rocha na mais alta planície do maior templo de pedras já levantado. Nas ruínas do templo, inscrições contavam a profecia de que o guerreiro que retirasse a arma da pedra, seria o verdadeiro rei de todos – o novo líder e herói do povo, o homem que reuniria os três povos em uma só nação de paz.

E desde então muitos tentaram, mas todos fracassaram. Até o dia em que o verdadeiro herói surgiu, e surpreendeu à todos ao retirar Kallidar da pedra. A espada perdurou durante os anos seguintes, sendo portada à punhos de ferro. Os três povos se uniram em uma só nação, e o reino foi fundado, recebendo o nome de Lowentür.

-- Eis então nosso reino, Kallidar, e a profecia da espada.

Os olhos da menina brilhavam ,mesmo tendo perdido as contas de quanto ouvira a lenda. O coração palpitava com força e ao mesmo tempo, Karelle pulava de alegria e fantasia com a história.

-- Agora eu tenho de partir. – olhou para o céu já escuro. – Há uma longa viagem até Lowentür.

-- Precisa mesmo ir? – era a filha já triste.

-- Sim, há uma reunião importante entre os cavaleiros da távula, e eu não posso perder.

A menina sorriu.

-- Como um cavaleiro da távula, pode me contar a história de como ela foi criada na próxima vez que voltar?

-- Mas é claro – sorriu.

-- E pode me levar até Camelot da próxima vez também?

-- Algum dia.

O cavaleiro deu um beijo e um abraço na filha e em seguida na mulher – já ficara por lá um bom tempo desde que retornara de sua última missão, e agora partiria por alguns meses até que retornasse novamente para casa.

Se despedira da família já com saudades e Karelle tinha de ser abraçada pela mãe para não saltar como penetra sobre o cavalo do pai.

-- Você promete? – foi quase um berro aos meios do pulo.

-- Eu prometo. – deu uma risada já em cima do cavalo, virou uma ultima vez e meneou o corpo como homenagem à um Sir. – Palavra de cavaleiro. – sorriu.

A menina tinha brilho no olhar.

Sir Gabriel cavalgou em direção ao horizonte sobre seu cavalo branco que destacava-se com limpidez na sombra da noite. E enquanto cavalgava, meio ao caminho, foi-se possível ver no alto do cume, bem no horizonte, os outros cavaleiros da távula, que surgiam sobre seus corcéis. Carregavam além das armaduras sólidas e limpas, a flâmula do reino de Avalon, e da cidade de Lowentür.

-- Um dia eu estarei por lá – disse Karelle. – É uma promessa. Uma profecia. – sorriu.

Mal todos sabiam, que Sir Gabriel partira para o seu julgamento final: a morte.

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