quarta-feira, 21 de abril de 2010

Havenus, o Algoz

Sempre achei que o mundo fosse dividido em tendências, em teorias. O equilíbrio. A chance de oportunidade – o bem e o mal.
Caos e ordem.
Tudo regido por um único sentido; a cegueira das coisas naturais da vida, que são essas.

Eu estava errado.


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Foi como um sonho de terror. Os tipos de sonhos que ele tinha muito ultimamente – há três anos.
Havenus teve o deslumbre da visão do inimigo. Enxergou pelos seus olhos. Conectou-se com sua mente.
O inimigo o acertara em cheio, e o que lhe vinha em forma de pergunta era: Por que não escapara?
Ele poderia. Teria conseguido.

Eles eram um grupo modesto. Todos eles.
O mundo de Arkhanum não era só um mundo perigoso; era terrível. Uma Idade de Trevas. Talvez fosse por isso que naquela equipe já tivessem passado sete pessoas diferentes além do Meio-Demônio. E entre os sete, somente três haviam sobrevivido.
No entanto, para Havenus, isso não era crueldade. Não. Era a realidade.

O mundo inóspito de pessoas de valor, cru e nu meio à desgraça multiplicável e coletiva, tinham lhe ensinado que as coisas eram assim. Os pobres eram a miséria, e o tipo de gente ignorante que ele sentia vontade de chutar quando estivessem no chão.
Os ricos diziam ter fé em Deus, e ainda por cima juravam realizar as vontades do dito cujo – em outras palavras, eram os piores da espécie.
Como não existia o meio termo – a classe “média” –, Havenus não ligava para nenhum deles.
Ficava pensando na realidade às vezes. Como podiam viver daquela forma, aquela gente? Os pobres eram tão amaldiçoados de inteligência, que já por falta de opção, preferiam agarrar um dos tipos de Classe que já existiam – os Pobres ou os Ricos – pra assim poderem viver na realidade dura e cruel. Fechavam os olhos pra não terem de ver e chorar. Mas o pior de tudo, era que em sua maior parte, as pessoas escolhiam adorar a classe dos Ricos, dos altos; o que era ignorância.

Mas o povo sempre foi ignorante mesmo...

Os quase-mendigos (a classe pobre, por assim dizer) sempre gostou de olhar para o bonito. Todos gostavam de coisas bonitas. Afinal, quem iria querer olhar para a feiúra da pobreza da população?
Ai daquele que gostasse do que era feio – fogueira na mesma hora. Herege!

Os ricos então -- Condes, padres, cavaleiros, duques, reis. Papas. – gloriavam-se com a luz do próprio ouro que cegava os miseráveis do outro mundo. O mundo pobre.

Havenus não se importava.

Já fazia tempos que aprendera que sorrir era pecado. Os providos de inteligência, dignos de conduta e classe, nunca sorriam. Mantinham o rosto sério, pálido e fresco. Duro como rocha, calmo e calculista como um vulcão.
Quem sorria, era o oposto – era mal. E, talvez fosse por isso que a maioria das histórias de terror tinham inimigos sorridentes, que gargalhavam o tempo todo.
Bruxas riam e se deleitavam com os prazeres carnais. Magos e ocultistas sempre tinham um sorriso sombrio no rosto, sorriso de zombaria. E os monstros, claro, sempre gargalhavam ao ver sua próxima vítima. Ou simplesmente riam por rir.

E assim era a lei.

Lei do bem – lei de Deus.
Não rir. Nunca.

Risadas?
Fogueira. Herege!

Mas não era por isso que o cavaleiro não ria. Não era também só pelo fato de ser um Algoz, um assassino procurado em 20 países. Havenus não ria, não por não ter motivos, mas por não ser necessário. Não era útil, não servia para nada. Rir, não matava os inimigos. Rir, não resolvia problemas. Não os dele.

Fora há três anos, quando ele vira seu mundo definhar aos poucos – e dos poucos ao rápido.

Perdera a mulher que amava, pois não conseguira defendê-la. Perdeu os amigos em uma chacina por ser burro e não confiar em ninguém. Nem nele mesmo.
Depois, perdera sua dignidade e seus objetivos, por confiar demais.

Logo, no inferno.

Foram três longos anos que vagou sozinho. Caçando, matando e enxergando a realidade daquele mundo pobre e podre.

Não sabia se antes era feliz porque não vira essa realidade, ou se o mundo foi piorando conforme ele mesmo fora chafurdando no excremento.

Não precisava de amigos, não precisava de sorrisos, não precisava do mundo. Só precisava da arma, de dinheiro e de vingança. Queria o inferno – além de tudo, não que gostasse, mas queria viver naquele inferno. Era bom arrebatar as pessoas pro NADA. Contentava-se: tinha vingança.

E, para o leitor que achar estes registros, acreditar que isso é tristeza não é inteiramente verídico, acreditem: era bom que fosse assim.

Viver na Idade das Trevas, no lugar que era Arkhanum, a vida devia seguir dessa forma. Cruel e calculista. Impiedosa.
Confiar em alguém era confiar na ignorância. Todos eram ignorantes.
Se você era só, era cruel – mal – logo se dava bem (na medida do possível).

Porque o mundo era cruel e Deus era mal.
Por isso, os três anos que passara em sua vida nesse tipo de conceito, Havenus se dera muito bem. Vivera sem arrependimentos, o que em Arkhanum era muito bom – viver naquele lugar já era um arrependimento.

Mas os conceitos mudavam. Sete pessoas apareceram; quatro morreram e ficaram apenas três. Entre todos, Havenus era o mais forte, porque era só, e não se importava.
Foram dias duvidosos e cruéis para ele quando haviam se passado alguns meses com aquela gente que se juntara. Sua mente de repente estava embaraçada. Estava louca e insana. Uma visão diferente surgia. Um brilho nascia e crescia das trevas da solidão. Os amigos eram bons, a alegria entre os mesmos crescia e o prazer de estarem juntos conseguindo sobreviver era boa. Tudo começava a não fazer sentido. E era bom.

Enfim, recuperava de imediato o que há muito já havia perdido. E por um tempo, ele foi um herege – ele sorrira. O mundo era mundo de novo. Não o mundo real, e sim o mundo que todos mereciam. Paz, amizade, felicidade.

Mas a Idade das Trevas era cruel, e essas coisas não tinham lugar. Paz não era o suficiente. Amizade não existia. Felicidade era ilusão.
Havenus percebeu isso e mais um pouco, quando tomara a frente de um golpe que não era pra ele.

Golpe terrível, fulminante. Mortal.

Havenus teve o deslumbre da visão do inimigo. Enxergou pelos seus olhos. Conectou-se com sua mente.
O inimigo o acertara em cheio, e ante a morte, percebera o erro. Sabia, e dissera para si mesmo:

“Tudo foi em vão.”

7 comentários:

  1. estão faltando blogs sobre rpg desse naipe, cara continua pq ta muito maneiro

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  2. Companheiro... continua assim, se fizer alguns de Arton estarei lendo todos... Parabens!!

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  3. Brow !!
    ta ligado q tu jah tem profissão garantida ou desenhando mangá ou escrevendo!!
    hehe brow vamu q vamu sempre nos superando q aos poucos agente chega lah...

    Sempre ai quando precisar ta ligado q eh nois brow !!

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  4. Muito bom! Continue postando. Você escreve muito bem.

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  5. Cara toda vez q leio isso eu choro cara..... vc está muito bem mano, continua q vc tem talento, corra atraz, Numa historia, não importa palavras bonitas ou dificeis, mais sim transmitir, a sensação da historia, cada palavra lida, possa se sentir na pele, e realmente vc consegiu essa proesa nisso... Parabens !

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  6. Nossa muito 10, gostei x)... parabéns, tem que continuar escrevendo =D... .(me segue ae xD) ... abraços

    http://elyhalves.blogspot.com/

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